sexta-feira, 28 de março de 2014

MUSEU HISTÓRICO SOROCABANO - 60 ANOS - 28/03/2014

Estou curtindo muito esta história de visitar museus. Até meu marido já está pegando gosto! Então, assim que voltamos de Itu, comento com ele meus planos para o próximo final de semana (fim de mês, sem dinheiro, rs). Sugiro visitarmos ao Museu de Sorocaba. Para ser sincera, nem me lembrava de tê-lo visitado um dia, o que é uma vergonha! Descobri que o museu nem era onde eu pensava originalmente... estava confundindo o 'Museu da Fepasa' (que fica em frente a estação de trem) com o Museu Sorocabano, que fica no Parque Zoológico - Quinzinho de Barros. O segundo passo foi entrar no site para verificar os horários. Fiz uma busca pelo facebook e consegui encontrar, através da página da prefeitura de Sorocaba, um evento que ocorreria no local, dia 28/03 às 19 hrs, justamente em comemoração ao aniversário de 60 anos do museu... nem acreditei em tamanha coincidência! 


Por isso, convidei minha querida amiga Pâmela Debiazzi e seguimos todos ao local, sem saber bem ao certo o que esperar...


#Até parece que o xadrez está na moda 
Antes de descrever a visita, gostaria de contar um pouquinho sobre o que descobri da pesquisa sobre a cidade. 

Histórico

Os primeiros habitantes 'sorocabanos' que se tem relatos foram os tupiniquins. Documentos residuais foram e são encontrados acidentalmente, de tempos em tempos. Recentemente, foram encontrados uns objetos sob a forma de urnas funerárias, pedra lascada e polida. Algumas destas urnas, estão dispostas no Museu Histórico Sorocabano. Consegui tirar umas fotos.


Os índios acreditavam em vida após a morte, por este motivo, seus corpos eram enterrados nessas Urnas em posição fetal, representando um novo nascimento. 

Restos mortais de indios


Havia uma importante rota indígena que passava por aqui, conhecida como "Peabiru". Tal caminho, possivelmente criado por Incas que tinham a intenção de levar sua cultura (Peru) a outras localidades, ligava oeste-leste à partir de Cusco e terminava em São Vicente (aproximadamente 3.000 km). A rota deve ter facilitado o comércio entre Incas e os índios Tupiniquins sorocabanos, pois foram encontrados objetos incas (pedaços de cerâmicas rústicas) durante escavações para instalação do sistema de esgoto em 2006, no bairro de Brigadeiro Tobias

Brasil Colonial

Após o descobrimento do Brasil, em 1589 Afonso Sardinha, seu filho e um técnico em Minas, Clemente Álvares, foram até o morro de Araçoiaba (fazenda Ipanema) em busca de ouro, mas acabaram encontrando literalmente uma montanha de minério de ferro. Avisaram o então Governador Geral, D. Francisco de Souza, que levantou um Pelourinho em 1599, símbolo do poder real , na nova Vila de Nossa Senhora de Monte Serrat. Hoje, este pelourinho encontra-se instalado na parte central da cidade, próximo a Rua Nogueira Martins. Há também uma réplica instalada na Av. Itavuvu que foi, durante a época da Real Fábrica de Ferro (Fazenda Ipanema), uma Vila muito importante na região. Sinceramente já passei umas 'mil vezes' pelo Pelourinho do Centro e nunca sequer havia reparado neste monumento. (#vergonha)



Bandeirantes / Sorocaba

Aproveitando a rota Peabiru, alguns Bandeirantes (denominação dada aos sertanistas do Brasil colonial, que à partir do séc. XVI penetraram os sertões brasileiros em busca de riquezas),  percorriam-na também em busca de índios, para escravizá-los. Entre estes 'caçadores', encontrava-se Baltazar Fernandes. Ele recebeu através de sesmaria (instituto jurídico português que normatizava a distribuição de terras destinada a produção agrícola) a região onde hoje encontra-se a cidade de Sorocaba. 

Próximo a 1654, Baltazar e sua família, mudaram-se para sua fazenda. O primeiro documento oficial que se tem registro é o testamento de Isabel de Proença, segunda esposa de Baltazar, de 28 de novembro de 1654. Neste, aparece pela primeira vez o nome da "Fazenda de Sorocaba". 

Em 1660,  Baltazar teria doado aos monges de Santana do Parnaíba a Capela Nossa Senhora da Ponte e outros bens (índios para trabalhar nestas terras e algum gado). Em troca, ele pediu que se rezasse no mínimo uma missa por mês. Daí, fundou-se o Mosteiro de São Bento. 


http://forum.mundofotografico.com.br/index.php?topic=58782.120
No Mosteiro, além da parte religiosa, Baltazar constituiu também uma escola a fim de atrair e garantir os estudos, a quem viesse morar nas proximidades. Isso deu certo e muitas pessoas, que viviam espalhadas pela região, mudaram-se para mais perto do Mosteiro, auxiliando o povoamento na localidade. Esta 'Vila', recebeu o nome já conhecido a referida região - Sorocaba.

Sorocaba - origem Tupi Guarani e significa voçoroca, terra rasgada, devido a erosão que encontrava-se na localidade. 

Devido a tal crescimento e importância, em 1661, Baltazar aproveitou que o Governador Salvador Correa de Sã e Benevides visitava a São Paulo e solicitou que sua 'fazenda' fosse elevada a Vila, devido a Trinta Fogos (como eram chamadas as famílias que viviam aqui). Sua solicitação foi aprovada e, no dia 03 de março, a primeira Câmara Municipal foi nomeada e o Pelourinho, que encontrava-se na antiga Vila Itavuvu, foi transferido para o local. 

Achei um filme que gostei muito, no youtube, produzido com o apoio da empresa Dana. Trata-se de uma explicação sobre o histórico de nossa cidade, vale a pena conferir. 



Rio Sorocaba - era utilizado pelos habitantes, como líquido precioso para beber, e também para a rota navegação dos bandeirantes, através de seu batelões, que eram barcos construídos através de um único tronco (utilizava-se principalmente a Peroba Rosa). Chegavam a ter até 12m de comprimento e eram capazes de carregar, além da carga, 30 'monçoeiros' - Bandeirantes, escravos e índios que partiam para as famosas Monções (há um exemplar deste 'barco' no Quinzinho e outro em ótimo estado no Parque das Monções, em Porto Feliz). À partir de Sorocaba, partiram expedições muito importantes, tal como a de Pascoal Moreira Cabral, um dos fundadores da cidade de Cuiabá. Para se chegar até Cuiabá, eram necessário percorrer vários rios, totalizando 3.500 km. 


Batelão de Porto Feliz

Tropeirismo - Os Bandeirantes surgiram no séc. XVI, descobrindo e buscando riquezas. Foram responsáveis por povoar várias regiões e criar várias Vilas. Mais tarde, havia a necessidade de estabelecer o comércio entre elas e foi justamente neste cenário, no séc. XVII, que surgem os tropeiros. Este termo deriva do condutor da tropa, comitivas de Mulas. Antes das estradas de ferro, eram eles que comercializavam o ouro, animais e produtos. Encontrei outro vídeo bem bacana, também produzido aqui em Sorocaba, que conta um pouquinho sobre o Tropeiro Sorocabano, com a participação de Zézinho (Rubens Incao).



Neste link, há um pouco mais sobre a história dos tropeiros (link)

Visita no Museu Sorocabano

Assim que chegamos, fomos recebidos pelo Sr. José Rubens Incao, também conhecido como Zézinho, que é atualmente o chefe de Patrimônio Histórico da Secretaria da Cultura (Secult). 



Sua proposta foi nos dar a oportunidade de conhecer a vida nos séculos passados, vivenciando um momento, que possibilita identificar fragmentos da atual identidade sorocabana. 

Embora o casarão esteja necessitando de uma reforma, ele ainda é muito bonito. Zézinho aproveita a parte 'descascada' da parede, para nos explicar um pouco mais sobre sua arquitetura. 





A casa foi construída em 1780 por mãos escravas, através do sistema de Taipa de Pilão, que utiliza barro e cascalho para erguer as paredes. Zézinho nos contou que casas como esta precisam ter um beiral, proteção lateral, bem maior, para evitar que a chuva danifique. Na sequência, nos explica a razão de cada ambiente estar localizado daquela forma. Por exemplo, na casa Museu, há um quarto na varanda, que servia para receber um 'estranho'. Ninguém colocaria um estranho dentro de casa até ter certeza de que tratava-se de uma boa pessoa. O quarto da filha, só se tinha acesso através do quarto dos pais, assim ela ficaria mais protegida. Enfim, achei muito interessante a explicação sobre a disposição dos cômodos. 


Sobre seus antigos proprietários, passaram por aqui, nada mais nada menos, que o Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar e sua esposa, a Marquesa de Santos (ex amante de D. Pedro I). Mais tarde, pertenceu ao Sr. Joaquim Eugênio Monteiro de Barros, vulgo Quinzinho de Barros, de cujo os filhos a prefeitura conseguiu este Patrimônio, que dá nome ao zoológico e abriga o Museu Histórico Sorocabano. Aliás, Zézinho nos contou histórias lindíssimas sobre o ex-prefeito Quinzinho de Barros... homem muito bondoso, que ajudou milhares de pessoas, dando terra, abrigo, comida, etc. Há uma foto dele no museu.




O museu está organizado e dividido em sessões distintas: Arquitetura, Antropologia e histórias de Sorocaba. O mesmo é composto por objetos arqueológicos, passando pelos bandeirantes, tropeirismo até a instalação da Real Fábrica de Ferro em Ipanema. Segue algumas imagens do museu:

Detalhes da arquitetura - parede de Taipa:



Acervo Tropeiro:









Acervo indígena:












O acervo histórico de Baltazar limita-se basicamente a um baú e ao monumento, em sua homenagem. Aliás, este fato nos chamou muito atenção! Afinal, naquela época, as pessoas não tinham muitos bens e provavelmente seu único bem de valor, além das terras, era este Baú que constou inclusive em seu testamento.  O restante da sala são memórias. Há uns quadros que relatam alguns importantes momentos históricos e são lindíssimos.
















Algumas lembranças da Real Fábrica de Ferro, Fazenda Ipanema.













Do lado de fora, há inclusive, uma das três primeiras Cruz de Ferro, feitas para estrear os fornos de fundição na Fazenda Ipanema e uma locomotiva.





Na última sala, há alguns itens do século XX e uma cadeira que, provavelmente, pertenceu ao Brigadeiro Tobias.



Atual correio da Rua São Bento. Era o antigo presídio da Vila.


Máquina de Costura








A visita foi incrível! Incao é um historiador e tanto. Sabe contar, nos permite sentir... rimos e quase choramos ao ouvi-lo contando 'causos' antigos. Faço apenas um parênteses. A apresentação foi diferenciada devido a ter sido talvez mais 'permissiva' ou 'sensitiva' do que normalmente. Não é comum nos permitirem ver os restos mortais do índio, dentro da urna, por exemplo. Há uma corda para impedir que nos aproximemos muito dos objetos. Não tenho muita certeza se, à partir de agora, isso será um padrão (espero que sim :D). 

Embora a apresentação tenha terminado 20:30, saímos de lá umas 22 hrs, praticamente expulsos por Incao, que nos estava contando seus próximos planos de restauro e eventos culturais em Sorocaba. Fico muito feliz ao ouvir tudo e desejo de coração estar presente nos próximos.

Faça uma visita em 3D, caso não o possa fazê-lo pessoalmente, segue o link:

http://sorocaba.cidadeinterativa3d.com.br/pv/mhs.swf

Fonte de pesquisa:
http://www.camarasorocaba.sp.gov.br/sitecamara/historiasorocaba.html;jsessionid=09ee9fa917d7105f0fad43a8db0d
http://pt.wikipedia.org/wiki/Caminho_do_Peabiru
http://www.sorocaba.com.br/dicas-turismo/pelourinho-27
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tropeirismo
http://www.sorocaba.com.br/dicas-turismo/pag2
http://www.vivacidade.com.br/gv_pontos_turisticos_interno.php?id_turistico=132